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domingo, 1 de junho de 2014

O Alto preço




         Quando uma fuga leva a outra
                             (2003/2004)

Era o final de 2003, o ano em que eu me afundei de vez nas drogas estava acabando, mas meu pesadelo estava apenas começando. Eu tinha colocado um ponto final na loucura que era trabalhar naquele galpão, só que fiz isso da pior maneira possível, causando um estrago enorme na minha vida, que já não estava boa.

        Ainda da favela, onde havia passado os últimos dias, liguei pra casa para saber em que grau de complicação eu me encontrava. E as noticias não foram diferentes daquilo que eu imaginava. Meu ex – patrão estava ligando de meia em meia hora a minha procura.

        Minha mãe disse que achava melhor eu nem ir para casa, porque ele não sabia o meu endereço mas conhecia o bairro onde eu morava, e lá era fácil de ele saber  o meu endereço. Eu era mais conhecido do que moeda de um real, por conta do tempo em que era envolvido com o tráfico.

        E agora? Pensei. Não havia saída, minha mãe chegou a sugerir que eu fosse conversar com ele, mais para mim, isso estava fora de cogitação. Eu o conhecia bem, e sabia que desta vez ele não seria compreensivo, e nem deveria, o que eu fiz tinha ultrapassado todos os limites.

        Mas ainda sim, arrisquei ir para casa, eu estava muito debilitado, sujo e fraco, vomitando a tora hora, mesmo sem ter nada para vomitar, o que saia era apenas um golfo verde e amarguíssimo. Eu precisava me recuperar, nem que fosse só um pouco, e daí pensar no que eu faria, e não havia outro lugar a não ser a minha casa.

        Então sai da favela e fui tentar pegar uma carona em um ônibus. Quando eu me aproximava do ponto, avistei um dos funcionários do galpão, que inclusive era o braço direito do meu ex-patrão. Eu me escondi atrás de um carro e esperei ele embarcar, então só depois fui tentar ir para casa.

Não demorou muito e logo consegui uma carona, tive que me esforçar muito para não apagar no ônibus. Eu sentia que estava prestes a desmaiar, nunca antes eu havia me drogado tanto e passado tanto tempo sem me alimentar, eu estava um caco.

No caminho tive uma ideia, pensei que se ligasse para o meu ex-patrão dizendo que estava em qualquer lugar menos em casa, isso me daria um tempo para pensar em uma solução, mas achei melhor deixar pra depois.

 Chegando em casa pensei que apenas a minha mãe sabia, mas eu tinha esquecido que mais de uma vez eu havia ligado para ele do telefone da menina que eu “namorava”. Resultado, é óbvio que a situação estava caótica, ela, a mãe dela, e outras pessoas que não tinham nada a ver, já estavam sabendo.

A conversa com a minha mãe foi curta, até porque ela nunca foi de se manifestar como deveria. Ela apenas disse que, nós colhemos o que plantamos, que se eu queria usar drogas era um problema meu, mas ladrão na casa dela, ela não aceitaria. Eu não a julgo, ela estava certa, eu tinha que arcar com as consequências dos meus atos.

Contudo ela não me expulsou de casa, mas disse que eu deveria resolver isso, ou então ela diria ao meu ex-patrão que eu estava em casa. Ela deixou claro que não iria me aceitar, caso eu não me propusesse a pagar o prejuízo dele.

Eu não acreditava que ele quisesse fazer algum tipo de acordo, ele andava armado e era louco. Um dia, quando eu e ele voltávamos de um churrasco, atropelamos um cachorro na frente do dono. Ele saiu do carro  e foi ver como o cãozinho estava, e após alguns instantes ele voltou até o carro e me disse, “coitadinho, ele não vai sobreviver”, então, ele pegou a pistola que carregava no carro, foi até lá e atirou na cabeça do cachorro, deixando todos em volta em pânico. Desse dia em diante, eu passei a ter medo dele, o sujeito era completamente louco. Por esta e outras histórias, que os funcionários mais antigos contavam, histórias que incluíam até homicídios praticados por ele, eu estava convencido de que ele me mataria, se tivesse a chance.

Por isso liguei para ele novamente, apenas para saber qual seria a sua reação, e se havia alguma possibilidade de ele não ia até a minha casa me matar. Quando ele atendeu o telefone, e eu me identifiquei, a sua reação foi muito suspeita. Com a maior tranquilidade ele disse que ainda bem que eu havia ligado, pois estava preocupado comigo, achando que eu tinha morrido, completou dizendo que queria que eu fosse me encontrar com ele para conversarmos com mais calma.

Só que não foi isso que ele havia dito para a minha mãe, então eu desliguei o telefone e não pensei duas vezes, comecei a procurar um lugar para onde eu pudesse ir, pois estava claro que ele estava armando para me pegar. E eu estava certo, no mesmo dia ele ligou para a minha mãe pedindo o endereço e dizendo que queria me ajudar. Depois de algum tempo, fiquei sabendo que ele havia aparecido por lá.

Na verdade, até hoje eu não sei qual era a real intenção do meu ex-patrão, mais na época, eu não queria pagar pra ver. Fui pedir asilo a um primo que na época, morava em Ilha de Guaratiba, Zona Oeste do Rio. O mesmo primo, com o qual eu havia cheirado cocaína pela primeira vez. Ficaria lá por um tempo, até meu pai me propor que eu fosse trabalhar com ele, pois ele havia montado uma pequena oficina em São Paulo.







Enquanto isso...

Olá amigos! Começo o enquanto isso de hoje agradecendo a Deus pelo milagre que estou vivendo, é um momento ímpar na minha vida, pois tudo que estou fazendo está me dando  satisfação e alegria. A muito não sabia o que era me sentir assim, nem sei se um dia senti, mas hoje cada tarefa do dia a dia me faz sentir-me mais vivo. 
   
   No início, a escolha de morar em outra cidade soava como apenas mais uma fuga, por que no fundo eu sabia que para quem decide ficar limpo, em qualquer lugar se pode fazê-lo, como para quem quer usar também. Contudo, meu desejo de encontrar uma nova maneira de viver, está prevalecendo  nesse momento.

  E é isso que estou buscando a cada dia, reformular a minha vida por inteira, a começar por aderir incondicionalmente uma postura de recuperação. Pela primeira vez me rendi, inteira e completamente ao programa de NA, partindo de me dispor a cumprir uma das primeiras e até mais importante sugestão desse programa, ir a noventa reuniões em noventa dias.

  Aqui possuo todas as condições necessárias para recomeçar minha vida, mas isso se eu me manter em recuperação, sei que não devo me iludir com as melhoras exteriores. Minha doença age física, mental e espiritualmente, estou mais que convencido disso. Por isso minha principal busca nesse momento é o auto-conhecimento.

   É enorme a lista de fatores que ainda podem me levar a uma recaída, por isso, como nesse processo só se alcança bons resultados dando um passo de cada vez, me retenho a manter meu foco no território por onde eu nunca transitei, o da  espiritualidade. Essa é a minha nova maneira de viver, em busca da fé que eu nunca tive.

  No próximo sábado faço trinta dias limpo em recuperação, até lá peça ao meu poder superior que continue me dando forças e entusiasmo para prosseguir. Só por hoje eu vivo limpo e feliz, obrigado Deus! Desejo a todos mais 24 horas!
                                      Um forte abraço! 
  


2 comentários:

  1. Olá Heleno. Fico muito feliz por você estar pensando assim, buscando sua recuperação. Desejo muita força pra ti. E que você busque, cada dia mais, estar mais próximo desse Deus que nos conforta tanto. Busque aprender mais sobre Ele e de Seu maravilhoso amor por nós. E múltiplas 24 horas. Só por hoje!
    Abraço.
    (recuperacaoepossivel.blogspot.com.br)

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  2. todos tem seu tempo, o seu chegou, segure firme nessa irmandade e nunca se esqueça que sozinho vc não consegue..humildade e honestidade são a base do programa...SÓ POR HOJE FUNCIONA...parabéns continue voltando

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