de negação em negação

              
           
                  Vivendo na mais completa insanidade
                                            (2004)
 
Em 2004 começava minha peregrinação pelos caminhos do sofrimento constante. Não refleti nem por um instante sobre a minha situação naquele momento, nem se quer me dei conta de que eu estava sem casa para morar. Pois voltar para a casa da minha mãe representava um grande risco de morte ou de ir para a prisão.

    É inacreditável o poder que a droga tem de cegar a pessoa e de tirar dela o censo de realidade. Era assim que eu me encontrava, tinha abandonado tudo e anda acreditava que valia a pena continuar vivendo daquela maneira. Fiquei do final do ano anterior até o fim do carnaval de 2004 na casa desse primo, em Ilha de Guaratiba.

    Dei um tempo na cocaína, até por que não tinha dinheiro, mas estávamos sempre bebendo e volta e meia meu primo resolvia comprar um pouco de coca. Durante aquele carnaval ocorreu um fato que não poso deixar de lembrar, isso me causa arrepios até hoje. 

   Tínhamos passado o dia inteiro bebendo, eu , o primo que morava lá e um outro primo de São Paulo que tinha ido passar o carnaval lá. Ao cair da noite fomos para casa completamente alcoolizados, era comum ficarmos zoando um ao outro tempo todo, só que com o grau de embreagues essas brincadeiras beiravam a ofensas. 

  Então, já em casa, houve um momento que eu e meu primo, o dono da casa, nos estranhamos. Nada de mais se não fosse o que aconteceu depois. Passado alguns instantes, eu estava distraidamente tocando violão quando ouvi meu outro primo, o de SP, gritar assustadoramente; "não faz isso cara, você está louco",

e quando e me viro para ver o que era vejo ele segurando uma garrafa quebrada pelo gargalo.

   Meu primo o impediu de cravar aquele gargalo em mim, se estivéssemos apenas eu e ele, eu seria covardemente golpeado pelas costas. Por muito pouco eu sairia dali direto para uma emergência de hospital,

isso se sobrevivesse. Acabou que a porrada comeu de novo e dessa vez eu o agredi de verdade, depois fomos eu e o outro para a rua deixando ele sozinho lá.

   No dia seguinte, nos desculpamos e fizemos de conta que nada aconteceu, voltamos a beber juntos novamente no mesmo dia. Inconsequência então virava meu sobre nome, nenhum tipo de perigo me causava medo, pelo contrário, desenvolvi uma certa atração por situações de alto risco. Apesar do fato assustador que aconteceu, não seria por isso que eu não poderia continuar morando com meu primo, pois apesar de ele também ser adicto, meu grau de irresponsabilidade ultrapassava todos os limites, fazendo de mim uma pessoa de convivência difícil.

   Não tive outra opção a não ser pedir a minha mãe para voltar pra casa. Ela não escondeu que preferia que eu não voltasse, mas também não podia deixar seu filho morando na rua. Quando voltei para casa, não dava as caras nem se quer na janela, vivia escondido dentro de casa com medo de que o meu ex-patrão aparecesse por lá e me visse. Por sorte, meu pai tinha ido para São Paulo à alguns meses, para montar uma oficina por lá e resolveu me chamar para trabalhar com ele.

   De cara pensei em dizer não, pois sabia que difícilmente daria certo, por dois motivos. Primeiro por que nossa relação nunca foi das melhores. Segundo que, a primeira coisa que ele me disse depois de fazer o convite foi que lá eu não poderia nem pensar em  usar, segundo suas palavras, aquelas porcarias que eu usava. Isso por que a região onde se localizava a oficina era dominada por milicianos que não admitiam uso de drogas por lá.

   Por mais que eu não achasse uma boa ideia ir para lá, o fato de eu me sentir em constante perigo dentro de casa me fez achar melhor aceitar a oferta. Então juntei os meus trapos que eu chamava de roupa e segui viajem. 

   Por um lado foi melhor eu ter ido mesmo para São Paulo, não havia mais condições de permanecer no Rio, muito menos no meu bairro, onde minha imagem era mais suja que um bueiro. E também me lembro que o fato de supostamente não haver drogas me fez cogitar a possibilidade de mudar de vida realmente.

  Estava entusiasmado com uma nova vida que eu poderia ter em São Paulo, não quis saber de mais nada, deixei pra trás minha pseudonamorada e tudo mais que me prendia a aquele lugar. Chegando em SP a recepção de meu pai não poderia ser mais incoerente, fomos direto para um bar e enchemos a cara.

 A situação se manteve razoável por um bom tempo, trabalhávamos durante todo o dia e a noite enchíamos a cara de caipirinha. Eu fiquei mais de dois meses sem me drogar. Entretanto fazia um monte de merda, como por exemplo baforar thinner( solvente para tintas) por isso não demoraria muito pra eu começar a fazer aquilo que eu fazia de melhor, criar problemas. 

Enquanto isso...

Olá amigos! Como vão todos? Espero que tão bem quanto eu. Hoje estou animado com os preparativos para as comemorações que estão por vir.

         Diversas datas importantes se aproximam essa semana. Na quarta feira, dia 5 farão 2 anos que eu e minha namorada nos conhecemos. É uma data marcante na minha vida, pois daquele dia em diante eu voltei a VIVER, considero esta data o dia do meu renascimento.

         Também nesta semana, no sábado dia 7, eu completo 30 dias limpo e em recuperação, outro milagre que vou comemorar muito com a minha nova família de NA.

         E no domingo estarei completando 32 anos de vida. Data muito importante para mim, pois pela primeira vez , começo um novo ano da minha vida com uma nova perspectiva, super perto daquilo que eu almejo para ser feliz.

         São três momentos que vão consolidar o quanto vale a pena lutar para ficar limpo.

         Vivo Só por hoje, mas não posso negar que não vejo a hora de abraçar meu amor e dizer a ela o quanto ela é importante para mim, dar minha partilha com a minha ficha laranja nas mãos e soprar as velinhas.

     Desejo a todos múltiplas 24 Horas.  Um forte abraço! continuem voltando!