(2001/2002)
Passada a fase da criminalidade veio uma época melhor no sentido de viver sem risco de morte iminente, mas ainda não sabia como me divertir sem drogas, o que inclui o álcool. Sempre gostei muito de rock'in roll
Passada a fase da criminalidade veio uma época melhor no sentido de viver sem risco de morte iminente, mas ainda não sabia como me divertir sem drogas, o que inclui o álcool. Sempre gostei muito de rock'in roll
e nessa
época passei a viver ao estilo drogas e rock'in roll, então me tornei ainda
mais alienado, as mesmas
músicas,
pessoas,drogas e lugares de sempre.
Trabalhando
nessa oficina em Nova Iguaçu, aprendi a profissão que me ajudou unicamente a
manter meu vício até hoje, me especializei em pintura de automóveis o que me
rendia uma boa grana. E também nessa época peguei o hábito de beber
religiosamente ao final do expediente, sempre na companhia dos colegas de
trabalho.
Eu estava
estudando, fazia o primeiro ano do segundo grau e até hoje eu não sei como eu
conseguia
frequentar
as aulas, pois estava sempre sob efeito de álcool ou maconha.Nessa época eu
ainda conseguia controlar o uso de cocaína, normalmente usava aos finais de
semana até por que eu recebia por mês e só pegava vale de quinze em quinze
dias, mais tarde eu me tornaria mestre em desculpas para vales diários.
Era ano de
2001, nessa época eu me lembro de sentir vontade de mudar de vida, ainda não
estava completamente obcecado pela droga e tentei por várias vezes parar de
usar, pena não ter pedido ajuda enquanto era cedo, eu estava incomodado com o
que as drogas estavam fazendo eu me tornar, só não imaginava que ela ainda iria
me humilhar de todas as formas e me colocar sozinho nas ruas.
Nesse ano
tive ainda uma outra experiência terrível por conta das drogas e que envolveu a
polícia. Certo dia após sair do trabalho mais cedo resolvi passar na boca de
fumo e comprar maconha. Lá, comprei o que queria e quando estava saindo do
local fui parado pela polícia, que já sabiam de onde eu estava vindo.
Ainda tive
tempo de dispensar o flagrante, só que eles não se deram por satisfeitos com o
que eu contei que fazia ali e me enfiaram algemado na viatura me levando para
uma usina de reciclagem de lixo desativada que ficava em um local deserto lá
pelas redondezas. Dessa vez eles não me encostaram um dedo, entretanto
não foi nada
legal o que fizeram, pois como sempre queriam informações sobre o tráfico e
nada mais.
Como eu já
havia deixado claro que não falaria nada por que não sabia de nada, um dos
policiais foi até a mala da viatura e pegou um revólver velho e veio na minha
direção com ele, chegando perto ele me disse que só perguntaria mais uma vez e
caso eu não colaborasse com eles eu não teria nem como me arrepender.
Como eu não
falei nada ele apontou a arma para o meu peito e apertou o gatilho, mas a arma
não disparou.
Eu sai de
mim por alguns segundos mas voltei rapidamente quando ouvi ele dizer que o
primeiro falhou mas o segundo não iria falhar. Eu estava em estado de choque e
não conseguia falar, foi quando ele novamente apontou a arma, e como se fosse
bater com o cano na minha cara fez o disparo desviando do meu rosto por alguns
centímetros me deixando completamente surdo.
Apavorado
decidi contar a eles que eu havia dispensado a maconha, então retornaram comigo
para buscar
a droga.
Quando encontraram a erva vieram até a mim e me perguntaram se meus pais sabiam
que eu usava drogas, eu disse que não, e eles disseram que então hoje eles
ficariam sabendo. Eu não tinha o que fazer então levei eles até minha casa e
para o meu azar meu pai estava lá.
Foi aquele
rebuliço, com a viatura parada na minha porta todos os vizinhos vieram saber o
que estava acontecendo, por que eu ainda estava algemado no banco de trás. Meu pai
antes de falar qualquer coisa mandou eles me tirarem as algemas por que ele
podia não saber o que eu fizera, mas sabia que eu não era
bandido. E
ai após uma breve conversa eles foram embora me mandando tomar juízo. Só depois
meu pai me contou que eles pediram 500 reais para não me levar para a delegacia para assinar como usuário.
A reação de
meu pai não foi nem um pouco daquilo que eu esperava, ele simplesmente me deu
uma bronca por andar em locais de risco, isso por que? Como um bom adicto eu
inventei uma história cabeluda.
Disse que
estava entrando na rua da casa de um amigo, e que ficava próxima a boca
de fumo, quando os policiais me pararam e como eu não tinha nada comigo eles
forjaram um flagrante para tirar dinheiro dele.
E como se
nada tivesse acontecido, meus pais nunca mais tocaram nesse assunto e eu não me
preocupei
com o fato
de ter sujado a minha imagem nem de ter decepcionado meus pais, nem tampouco
deixei de frequentar a boca por causa disso. Acho que de certa forma aquilo
contribuiu para a progressão da minha dependência química, pois eu havia
perdido a vergonha e o medo de que as pessoas descobrissem.
Segui em
frente tentando levar uma vida normal, porém cada vez mais compulsivo e
obsessivo no uso de drogas. No final desse ano a oficina em que eu trabalhava
faliu e eu fiquei sem trabalhar até o começo do ano seguinte quando um cara que
eu havia conhecido no ano anterior me chamou para trabalhar com ele em uma
fábrica de lanchas da qual ele era dono que ficava na Cidade Alta, bairro de
Cordovil, zona norte.
2002 foi o
ano em que a adicção se implantou de vez, passei a usar nos dias de semana e
até dentro do
trabalho. O
galpão em que eu trabalhava ficava entre duas favelas muito violentas, uma era
a Cidade Alta e a outra que ficava do outro lado da avenida Brasil era Parada
de Lucas, esse foi fator determinante pra que eu perdesse de vez o controle
sobre a droga e começasse a praticar furtos.
Olá Heleno. Encontrei seu blog pelo seu comentário no Amandando um Dependente Quimico. Louvável sua atitude de mostrar sua história. É difícil encontrar adictos que se sintam bem em expôr seus sentimentos. Meu namorado também é adicto e está internado há 20 dias. Somos aqui do RS.
ResponderExcluirIncrível como as histórias se repetem. Detalhes, pessoas mudam, mas as histórias são sempre as mesmas. Espero que você tenha forças pra lutar contra essa doença que causa tanto sofrimento.
Já que você decidiu se expor, seja sempre sincero com você e com seus sentimentos, mesmo que não se sinta orgulhoso deles. O tratamento é um processo doloroso, e não acaba nunca, mas vale muito a pena. Que você possa vivê-lo todos os dias. Que Deus te abençoe.
Também mantenho um blog: recuperacaoepossivel.blogspot.com.br
Abraço!
Heleno Vieira, li este poste do seu blog. Foi a minha primeira leitura e me causou uma ótima impressão. A simbologia das imagens me transporta para seu drama particular e o caminho árduo em busca da sua recuperação. Seu caminhar é doloroso. A neve pode ser a frieza de sentimentos de outras pessoas, que segue sua jornada, escalando uma montanha com a determinação de um guerreiro. Começou na planície, solitário e, ainda assim segue em frente. Sabe que não é fácil, mas também sabe que nada é impossível quando tudo podemos naquele que nos fortalece e você vai em frente, decidido. A liberdade começa com o seu conhecimento de que é necessário deixar as drogas. Sua meta você conquistará, vez que já deu os primeiros passos e, em seu relato verifico que você faz revelações que são objeto do quarto passo. Ainda não li outros posts seu, mas considero este espetacular, porque sinto que as palavras brotam do seu coração e verifico que você não é do mal, mas a doença é terrível. Creio que é um adicto que vive um momento, particularmente, complicado. Pessoas precisam de pessoas e sozinho ninguém consegue, mas você crê em um poder superior, capaz de operar milagres em sua vida, que nunca foi fácil. Agora é hora de você, com mente aberta, boa vontade e honestidade buscar o caminho que a esperança lhe faz seguir. Você é forte e capaz de enfrentar desafios maiores, mesmo quando está só e tudo em volta é frio, gelado, mas seus sentimentos são sentimentos de quem teve uma formação boa e você tem valores e princípios que ainda lhe norteiam, apesar de alguns desvios mais sérios de conduta, perfeitamente compreensíveis por adictos. Lhe responderei algo no meu blog, mas adianto que sou amador em matéria de construção de blog. Gostei do mesmo, que tem a marca do seu estilo de vida. Seu texto é muito interessante e gostei e lhe aplaudo como escritor. Uma revelação no campo literário. Estamos juntos, companheiro. Eu gostaria de poder escrever muitas coisas, mas me auto-censuro. Você se solta e retrata a sua realidade com uma narrativa que prende o leito desde as primeiras linhas. Parabéns pelo blog e parabéns pelo texto. Sua vida é bonita e só lhe falta uma fora motriz. Sua trilha é do sucesso, do exito e você vai vencer esta primeira luta que trava consigo mesmo. Jogue a toalha e reconheça que quando usamos perdemos e, o chato é que não gostamos de perder e insistimos buscando provar para nós mesmos que somos imbatíveis e não somos porque as drogas mudam muita coisa dentro da gente e sabemos disso e continuamos em nossa insanidade. Queremos provar a nós mesmos que venceremos a droga. Conheço homens e mulheres que cansaram dessa luta e, sem explicação outra, abandonaram as drogas da noite para o dia. Você já tá com o pé na estrada da recuperação. Siga em frente pois fincara a bandeira da liberdade que busca alcançar coma determinação de um alpinista. O segredo está dentro de você... Continue escrevendo, no seu estilo que é muito bom. faço fé em você, cara. Vá devagar, mas vá na fé!
ResponderExcluirOlá Heleno, força continue caminhando os amigos já disseram tudo, só uma observação sobre o blog, se puder escreva com uma cor que destaque da paisagem de fundo pra que fique melhor pra ler...abraços
ResponderExcluirOlá Heleno, obrigado por partilhar sua história com a gente...Isso ajuda muito na recuperação de muitos, inclusive na minha...Tamujuntu pela mesma causa....
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