Pra mim, onde tudo começou
Desde criança me acostumei a
burlar as regras, pois não tive uma família que me desse atenção e
principalmente instrução. Criado em um ambiente nada saudável onde a presença
de bebida alcoólica era constante, tornou-se natural os episódios de
bebedeiras de meu pai e seus amigos. As brigas entre meus pais também eram
comuns, sempre muito agressivas e assustadoras, decorrentes do abuso de álcool
e algumas vezes, estupidez apenas.
Cresci sem referência nenhuma e de
certa forma fazia apenas o que queria, tanto que com treze anos decidi não ir
mais a escola após minha mãe me dizer que não iria mais me obrigar
a estudar, que se eu quisesse ser lixeiro era
problema meu.
E assim foi a minha infância, nada
diferente de outras onde o lar é invadido pelo álcool e formado por pais
negligentes; cenas de violência, espancamentos, constantes mudanças de endereço
e abandono.
Aos poucos fui me tornando aquilo que
eu não era; rebelde e inconsequente. Meu primeiro porre foi aos doze ou treze
anos, depois disso me habituei a sempre dar uns golinhos no copo de cerveja do
meu pai, dentro de bares e em casa mesmo, e o que é pior, ele se divertia com
isso. Houve muitos outros problemas que não é difícil de se imaginar quando o
cenário em que se vive é como esse que descrevi, porém, nessa época eu nem se
quer podia imaginar o que o futuro me reservava.
Quando eu tinha de treze pra quatorze
anos meus pais se separaram e eu vim para o rio de janeiro com minha mãe, minha
irmã mais velha e a caçula recém nascida. Fomos morar em uma casa no quintal do
meu avô no município de belford roxo.
Moravam no mesmo quintal também
minhas três tias e meu avô é claro. Todos já sabiam da minha fama de rebeldia e
não demorou muito para eu começar a criar problemas. Não ia a escola,
não fazia nada além de ficar na rua, é claro, sem a permissão de minha mãe e
contra as regras que me haviam sido impostas.
Naturalmente com o tempo
minha presença naquele quintal foi se tornando indesejada, e após vários
transtornos que causei tive que me mudar pra casa da minha avó paterna que
vivia em condições muito precárias. Após algum tempo fui para a casa de uma tia
de minha mãe em Casimiro de Abreu onde passei pouco tempo e retornei para São
Paulo para morar com outra tia. E foi certamente quando eu voltei para São
Paulo que comecei a me perder de verdade, pois foi um período em que eu me
encontrei completamente desamparado e sem destino. Solto de vez no mundo
comecei a ter contato com todo tipo de gente, comecei a beber de verdade, fumar
cigarros e a fazer tudo errado, motivo pelo qual não passava muito
tempo em lugar nenhum, pois minhas tias ficavam cansadas de mim e me
expulsavam de casa. E lá ia eu bater na porta de outra tia pedindo ajuda,
prometendo melhorar.
Isso se repetiu inúmeras
vezes, fui de casa em casa de parentes por bastante tempo, cheguei a morar um
tempo com meu pai também, mas nunca tivemos uma boa relação. Não
me lembro em quantas casas morei ao certo, só sei que quando não tinha
mais ninguém que quisesse me acolher meu pai que na época tinha vindo para o
Rio de Janeiro me convidou para trabalhar com ele em uma oficina de autos que
estava para abrir no bairro da Tijuca zona norte do Rio.
Eu estava então com
quinze anos de idade, já conhecia bem tudo o que não prestava e por mais que
nunca tivesse usado drogas já havia tido contato com quase todas. Então sem
opção aceitei a oferta de meu pai e retornei ao Rio para trabalhar pela
primeira vez em minha vida.
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